Pages

quarta-feira, 5 de março de 2014

Do Muro

Eu não sei o motivo pelo qual eu empurrei meu primo do muro. Eu simplesmente o vi, ali, se equilibrando, avançando pé por pé, como um equilibrista de filme, e não tive dúvidas: empurrei-o para o outro lado. Era na casa da minha vó, em Lavras (final de semana?), e estavam todos lá, além dela, minha mãe, meus dois primos e a mãe deles. Meu primo arranhou suas pernas por completo e permaneceu chorando por um bom tempo. Minha mãe me beliscou, me chamou de louco, e minha vó veio querendo me justificar, como sempre "Tu não pensou que ia machucar o Rafa, né?". Enquanto isso a Tia Chica limpava os ferimentos da perna dele e tentava acalmá-lo. Na verdade, pensando bem, eu fiz aquilo porque tinha inveja. Não que eu tenha pensado, planejado machucá-lo, pois realmente minha ação não teve premeditação alguma, foi impulsiva como quase todas as realizadas por uma criança de oito ou nove anos. Lembro-me de tê-la feito sorrindo, feliz. É que eles, para mim, simbolizavam tudo o que eu não tinha: Uma família. Pais juntos. Quartos individuais. E mais: um Dinavision e vários bonequinhos dos Comandos em Ação. E vê-lo ali em cima, ainda mais superior a mim (eu sempre tinha medo de subir nas coisas), ah, já era demais.

0 comentários:

Postar um comentário