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quarta-feira, 12 de março de 2014

Rosas às mulheres

Eu não tinha nem 3 meses no trabalho novo. Era o hospital, em Santa Maria no setor de odontologia, o auge dos meus vinte anos de fraqueza de personalidade. Eis que era dia da mulher e a maioria das pessoas que trabalhavam comigo o eram. Gastei o pouco do dinheiro que tinha e comprei uma rosa para cada uma delas. A questão nem era a cara de "que que é isso", ou o fato de algumas delas merecerem-nas ou não. O fato era eu trabalhar lá a tão pouco tempo e de estar no ambiente militar. Bom recebi alguns obrigados sinceros e amistosos mas alguns olhares desconfiados. Eu esperava aplausos. Hoje, bem, hoje eu jamais faria isso. Talvez se conhecesse muito bem minha colega e amiga de trabalho, talvez se eu estivesse há bastante tempo na empresa para algumas em específico, talvez se fossem minhas subordinadas, talvez. Uma flor é uma homenagem, um olhar do homem à mulher, não do homem para si mesmo.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Do Muro

Eu não sei o motivo pelo qual eu empurrei meu primo do muro. Eu simplesmente o vi, ali, se equilibrando, avançando pé por pé, como um equilibrista de filme, e não tive dúvidas: empurrei-o para o outro lado. Era na casa da minha vó, em Lavras (final de semana?), e estavam todos lá, além dela, minha mãe, meus dois primos e a mãe deles. Meu primo arranhou suas pernas por completo e permaneceu chorando por um bom tempo. Minha mãe me beliscou, me chamou de louco, e minha vó veio querendo me justificar, como sempre "Tu não pensou que ia machucar o Rafa, né?". Enquanto isso a Tia Chica limpava os ferimentos da perna dele e tentava acalmá-lo. Na verdade, pensando bem, eu fiz aquilo porque tinha inveja. Não que eu tenha pensado, planejado machucá-lo, pois realmente minha ação não teve premeditação alguma, foi impulsiva como quase todas as realizadas por uma criança de oito ou nove anos. Lembro-me de tê-la feito sorrindo, feliz. É que eles, para mim, simbolizavam tudo o que eu não tinha: Uma família. Pais juntos. Quartos individuais. E mais: um Dinavision e vários bonequinhos dos Comandos em Ação. E vê-lo ali em cima, ainda mais superior a mim (eu sempre tinha medo de subir nas coisas), ah, já era demais.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A Churrasqueira

Lembro de ter entrado na churrasqueira, bem no meio do aniversário. Saí de lá erguido pela orelha. Ainda acho que era o melhor lugar para se esconder na brincadeira. Eu deveria ter uns onze anos, minha avó já tinha falecido, eu morava em Lavras e era aniversário de um dos meus dois primos, Rafael ou Piter, não me lembro qual, na casa deles. Minha mãe disse algo do tipo "tu estragou a festa". Deixei minha calça jeans preta de carvão, é verdade. Fiquei triste. Os adultos sabem como nos deixar culpados sobremaneira. Ainda tristonho, fui para rua. A brincadeira continuou e eu resolvi me esconder embaixo de um carro (naquele momento eu já havia recebido alguns beliscões e batidas na calça para que o pó se fosse, e, pensando melhor, talvez nem fosse tanto). Acho que fui um dos últimos a ser encontrado. Lembro que saí dali com um pequeno rasgo na calça que eu mantive inteligentemente em segredo.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Pra mim conjugar.

Não é um projeto, nem um desabafo. Não é um lugar pra depositar minhas dores ou minha consciência pesada. É só o registro do que eu sou e das coisas que passei. Um canto pra eu escrever sem borracha e sem medo. Um canto pra não trocar os nomes das pessoas, pra eu lembrar que o mim pode conjugar verbo. Quero me lembrar do que passei, das pessoas que encontrei e do que cada uma delas deixou em mim. Antes que todas elas se apaguem e, em consequência, um pouco de mim.